Arte de cantochão

Complete title: 
Arte de canto chão com hvma breve instrucção, pera os Sacerdotes, Diaconos, Subdiaconos, & moços do Coro, conforme ao vso Romano
Year (text): 
1618
Editor: 
Diogo Gomes de Loureiro
Place: 
Coimbra
Edition used: 
Coimbra, Biblioteca Geral da Universidade, M.I.111 (1618); Lisboa, Biblioteca Nacional, M428P (1618)

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1-2

Assim seguirei aqui os [princípios] que me parecerem mais necessários para a inteligência do Cantochão; deixando de tratar do Canto e Música universal, da sua origem e antiguidade, da sua definição e divisão, de seus efeitos e utilidades, da diferença de Cantor e Músico, porque de tudo faço menção larga noutro Compêndio de arte do Canto de órgão, contraponto, composição e outras curiosidades da Música, que tenho entre mãos. A minha tenção é tratar agora somente da Teórica e Prática, que pertence ao Canto Eclesiástico, ou Gregoriano, para cujo fundamento representarei a mão ao modo antigo, com seus vinte signos, pelo que devemos aos primeiros inventores da Música. E em particular ao R. P. Guido Aretino de S. Vítor, Religioso da Ordem do glorioso Patriarca São Bento, o qual achou milagrosamente as seis vozes, ut, re, mi, fa, Sol, la, naquele célebre hino de S. João Baptista.
Ut. Ut queant laxis
Re. Resonare fibris.
Mi. Mira gestorum
Fa. Famuli tuorum.
Sol. Solve polluti
La. Labii reatum.
Sancte Ioannes.

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3-4

As vozes antes do P. Guido se figuravam com sete letras Alfabéticas Latinas A.B.C.D.E.F.G. entoando sete pontos, como fazemos re, mi, fa, re, mi, fa, Sol, coisa dificultosíssima de aprender; e assim gastavam dez anos antes de saber o Cantochão até ao tempo do dito P. Guido, o qual facilitou a Arte de cantar com a invenção da Mão na forma aqui representada; começando por Gammaut à honra dos Gregos primeiros inventores da Música [...]

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6

O Cantochão é uma pronunciação de figuras ou pontos de igual valia.
Na Arte de Cantochão há vinte letras: Γ, A, B, C, D, E, F, G, A, B, C, D, E, F, G, A, B, C, D, E. Estas vinte letras dividem-se em três partes: sete graves, sete agudas e seis sobreagudas.
Quaeque graves septem, septemque notantur acutae.
Et supra acutae sex, sint tubi quaeque manu.

As sete graves são as sete primeiras, ditas graves porque suas vozes são mais baixas.
As sete agudas são as outras sete seguintes, ditas agudas porque suas vozes são mais altas que as graves.
As seis sobreagudas são as seis derradeiras, ditas sobreagudas porque suas vozes são mais altas que as graves e agudas.
Destas vinte letras se fazem vinte Signos, de maneira que cada letra tem seu signo. Os signos são: ΓUt, Are, Bmi, Cfaut, Dsolre, Elami, Ffaut, Gsolreut, Alamire, Bfabmi, Csolfaut, Dlasolre, Elami, Ffaut, Gsolreut, Alamire, Bfabmi, Csolfa, Dlasol, Ela. Os dez (que são os nones) se põem no Canto em regra; os outros dez (que são os pares) se assentam em espaço, começando por Gammaut, em regra, Are em espaço, Bmi em regra, Cfaut em espaço, etc.
Estes vinte Signos reduzem-se a sete diferentes, dos quais se fará menção na Tabuada, e Capítulo seguinte.

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Cap. XIX. Das conjuntas, ou diuisones
Coniuncta, vel diuisio, est toni in semitonum, vel semitonij in tonum transpositio
Coniunta, ou diuisam he pôr mi, ou fa, accidental, onde a não ha natural.
As conjuntas, ou diuisones accidentaes no Canto chão son cinco, duas de bmol, tres de bquadro [...].
Dizer que sam dez conjuntas, ou doze (como em algunas artes ensinão) tenho por erro crasso no Canto chão, pois o Canto não anda em tantos pontos que as possa auer: & se querem dizer no Canto orgam não bastam; porque quantos signos houuer, tantas diuisones pode hauer. [Marginalia: “Ioão martinz na arte do Canto chão. Martim Tapia Cap. 29. fol. 71”] E assy (suposto que ham fam mais de sette signos differentes) nam fam mais que as cinco conjuntas referidas; que a que appotam, entre Gsolreut, & Alamire com final de bmol, quasi se nam vsa, ainda que se acha em hum Responso da Septuagesima [...].

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001
Folio: 
Proémio

Do pouco que esta Arte se estima, nasce toda a imperfeição da Música: porque (como diz o Filósofo) o não saberem os homens, e não alcançarem perfeitamente a ciência que desejam, procede de não entenderem os termos dela. Assim vemos de ordinário que, contentes muitos com o uso e prática da Música, deixam de merecer o próprio e verdadeiro nome de Músico por falta de ciência, de cujas causas não tratam, tanto que alcançam os efeitos, como músicos a posteriori. E não somente se descuidam de não saberem a Teórica, mas quase de todo a desprezam como contrária à Prática, andando elas de tal modo unidas e conformes, que não pode estar separada uma da outra. Nascerá porventura esta opinião de não haver até agora neste Reino quem tratasse e saísse à luz com estas duas partes juntas. E como fui o primeiro que nele ordenasse Missas e Música de Coros, e fosse parte para se instituir a Confraria de Santa Cecília dos Músicos em Lisboa, a Impressão do Canto de órgão, e outras coisas que noutro lugar referirei, quis também ser o primeiro que tomasse entre mãos esta empresa de ordenar a Arte de Cantochão, declarando sumariamente a Teórica e Prática dele;